domingo, 14 de junho de 2009

SETEMBRO, 20 (1915)

Cena de versão cinematográfica (1934) da Opereta "A Viúva Alegre"*

Hoje pela manhã, fui ao vice-consulado do Brasil. Não há Vice-Cônsul atualmente, porque o Dr. Ferrer, que ocupava este cargo, faleceu em Lisboa há pouco tempo. Está encarregado dos negócios do Brasil o Sr. Raul Teives, agente consular, que me recebe com a maior gentileza. Mostro-lhe os meus papéis: título de bacharel, passaporte etc, etc. Faz-me oferecimentos de praxe. Agradeço-lhe, fazendo sentir que me apresentei apenas porque estou aqui inteiramente só; vim bastante doente e, no caso de me suceder alguma cousa desagradável que não me deixe tempo a deliberar, parece-me que só o Cônsul do meu país verdadeiro pode tomar interesse por mim. Dei-lhe o meu endereço e o meu nome, bem como o de minha família a quem devia lhe comunicar o que me sucedesse sem me dar tempo a deliberar. Noto que o criado do vice-consulado é um tipo ultracômico: fisicamente é o Saraiva de Lemos e os modos são perfeitamente do Niegus (da Viúva Alegre). Esplêndido! Foram estas as ocorrências mais notáveis do dia e mesmo as únicas que merecem referência.



*1905: Estréia de "A Viúva Alegre" em Viena

Viena, 30 de dezembro de 1905. Estréia de opereta de Franz Lehar no Theater an der Wien. O programa prevê uma história de Pontevedrino, um país tão pequeno que não pode ser encontrado em mapa algum.

O governo de Pontevedrino teme que a viúva alegre gaste sua fortuna em Paris ou caia nas mãos de um usurpador, o que provocaria a falência do principado. Para que o dinheiro permaneça no país, é preciso que um pontevedriano seduza e case com a viúva. Trata-se da tarefa perfeita para o charmoso conde Danilo, que conhece todos os truques para conquistar as mulheres.

Ao fim da estréia, a 30 de dezembro de 1905, a opereta – que termina com a promessa de casamento da viúva alegre – recebeu um aplauso apenas moderado. Segundo o maestro da Musikalische Komödie de Leipzig, Roland Seyfarth, foi o que hoje se chamaria de fiasco.

Depois da fracassada estréia, o diretor do teatro distribuiu ingressos gratuitos. A conseqüência foi que o teatro lotou e a peça virou um sucesso. Os ingressos para todas as apresentações seguintes se esgotaram.

Logo espalharam-se os rumores de que o texto de Viktor Leon e Leo Stein parodiava a política dos Bálcãs. Pontevedrino, na realidade, se chamaria Montenegro, onde, no início do século 20, teria existido um príncipe herdeiro dado à boa vida.

A música foi composta por Franz Lehár (1870–1948), filho de um maestro de banda militar. Lehár foi um compositor inspirado, que atuou como mestre em várias bandas imperiais.
Além de operetas, também compôs músicas dramáticas, como mostram trechos de Tatjana (versão revista da sua primeira ópera Kukuschka, de 1896), bem como a curiosa Febre, de 1915, um poema tonal para tenor e orquestra, inspirado na experiência trágica do seu irmão, morto na Primeira Guerra Mundial.

Franz Lehár já era, portanto, um compositor conhecido. Mas foram as operetas – sobretudo A Viúva Alegre e O País do Sorriso, de 1929 – que lhe deram fama mundial. Segundo Roland Seyfarth, com A Viúva Alegre, Lehár descobriu um estilo próprio e inconfundível de composição, marcado por fortes contrastes. Oscila do sentimentalismo popular ao embalo mundano de animadas valsas e ousadas marchas.

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