A obra que se deliberou chamar “Diário da Madeira” é constituída de anotações, quase diárias, do poeta Nogueira Tapety entre os dias 15 de setembro e 29 de novembro de 1915. É bom que se diga logo: ninguém espere encontrar neste Diário grandes arroubos estético-literários, nem mesmo, aliás, quaisquer revelações de ordem autobiográfica. Para José Expedito Rego trata-se de “ anotações despreocupadas, tomadas, talvez ,para transformá-las em livro que relatasse suas impressões de viagem e de estada na ilha”.
Mas, mesmo sendo a tônica dos escritos a preocupação com a própria saúde e alimentação não deixa de ser extremamente interessante como descrição da vida na Ilha da Madeira num cenário de guerra mundial. O Funchal, cidade quatricentenária que chegou a ser bombardeada em 1916, parecia, no momento por ele retratado, uma Ilha da Fantasia, mormente para os endinheirados que se hospedavam, como o poeta, no paradisíaco e arquiluxuoso hotel Reid Palace. Transparece, também, que, nesta época, muito mais do que um território português, a Madeira era um protetorado da Inglaterra tanto que o poeta chegou a conclusão ser imprescindível aprender inglês. Curioso também notar que as pessoas, em geral, tinham uma visão totalmente distorcida da guerra como se ela tivesse sido uma sucessão de vitórias da Entente quando se sabe que houve derrotas acachapantes como a campanha pela conquista do estreito de Dardanelos onde milhares de soldados, ingleses e turcos, perderam a vida, e Churchil teve sua reputação enormemente abalada.
Enfim, um documento de época, sem maiores pretensões, mas que pode, para alguém que deseje teletransportar-se para o Funchal durante a primeira guerra mundial, ajudar bastante. As ilustrações, livres embora, ainda assim consideramos que valorizam o texto.
CASA DE FAZENDA CANELA
Pintura de Amélia Reis. Aqui nasceu e morreu o poeta Nogueira Tapety
BIOGRAFIA DE NOGUEIRA TAPETY
O poeta Benedito Francisco Nogueira Tapety nasceu na fazenda Canela, em Oeiras, Piauí, no dia 30 de dezembro de 1890. Filho de Antônio Francisco Nogueira e Aurora Leite Nogueira. Irmãos: Maria de Jesus Nogueira Campos (Bembém), Amélia (Dengosa), Amália (Cheirosa), Joaquina (Quinquina), Jeconias (Barra), José (Zé) e Sebastião (Bastim) Nogueira Tapety. Estudou as primeiras letras em sua terra natal. Fez curso preparatório em Teresina. Ingressou na tradicional Faculdade de Direito do Recife, onde se formou em 1911. Promotor Público, em 1912, da antiga capital do Piauí. Conselheiro Municipal. Idealizou a criação de uma instituição de artífices que redundou, posteriormente, na União Artística Operária Oeirense. Ano seguinte, Delegado-Geral de Teresina. Assessor do Governador Miguel Rosa. Jornalista desde o tempo de estudante. Colaborou no "Diário de Pernambuco", do Recife. Na capital piauiense, tornou-se colaborador freqüente de "O Piauí" e enviava trabalhos para "O Diário", de Belém. Adotava o pseudônimo Mesquita Petiguara. Orador fluente, aos 20 anos, pronunciou conferência no Teatro 4 de setembro, de Teresina, sob o título "A Luz", em que estuda o sol perante a ciência, a religião e a literatura. Lecionou Psicologia, Lógica e História da Filosofia no Liceu Piauiense, hoje, Colégio Zacarias de Góis, em Teresina. Ano de 1915, surgiram os primeiros sintomas do mal que o vitimaria, a tuberculose. Buscou cura na Ilha da Madeira, pertencente a Portugal. Vate primoroso. Integra várias antologias, inclusive a de J. G. de Araújo Jorge, intitulada OS MAIS BELOS SONETOS QUE O AMOR INSPIROU. Sua musa inspiradora foi a conterrânea Marica Sá, que também morreu solteira. Viveram um romance frustrado!... Ocupante primeiro da Cadeira nº 15 da Academia Piauiense de Letras.Faleceu no dia 18 de janeiro de 1918 na casa-de-fazenda referida. Sepultado no Cemitério do Santíssimo Sacramento, em Oeiras. É nome de rua, unidade escolar e conjunto habitacional em sua cidade. Em Teresina, há a rua Nogueira Tapety. "Arte e Tormento" é sua obra póstuma publicada ao ensejo do seu centenário de nascimento, em 1990. Povoa o imaginário de todos os que conhecem sua vida e obra.
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