sexta-feira, 12 de junho de 2009

OUTUBRO, 31 (1915)

Jardim Municipal de Funchal
Maravilhosa a noite de ontem, apesar dos 15 graus de temperatura que tivemos.Levantei-me tarde e depois de um ótimo banho quente começo a ler “O Amor através dostempos”, de Lauret. Como todos os domingos, este está de uma pavorosa monotonia. Choveu um pouco esta manhã, mas como a tarde fizesse bom tempo desci à cidade a pé e fui ao jardim público onde dava um concerto uma banda militar. Boa música, digna da Madeira e capaz de meter no chinelo até mesmo a Polícia do Burlamaqui. Noto, porém, desolado, que a mulher madeirense, da qual existem no jardim exemplares bem interessantes, apesar de não ser feia, não tem o encanto, a sedução, a graça, a vivacidade da brasileira. É um tipo morto, sem vibração e sem vida, de olhos apagados e inexpressivos. No Brasil, toda a vez que me surpreendia sob os olhares de uma criatura do outro sexo, moça e formosa, estremecia, porque o fluxo luminoso me penetrava a alma. Aqui não; os olhos não têm aquele poder diabólico e ferino que talvez seja um resto de selvatiqueza, como diria Euclides da Cunha. Em todo o caso, bendita seja esta faculdade que é o maior encanto da brasileira.

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