domingo, 14 de junho de 2009

OUTUBRO, 06 (1915)

Monumento ao General Pinheiro Machado, assassinado no dia 09 de setembro de 1915
Amanheci indisposto. Ontem à noite, depois de ter chegado do passeio que fiz ao Monte, comecei a me sentir mal. Jantei sem apetite e, quando, pelas 10 horas, me recolhi, tive um ligeiro escarro de sangue. Fiz, eu mesmo, uma injeção de hidrastinina.

Hoje pela manhã, tive outro escarro sangüíneo, mais vivo que o de ontem. Não sei se deva atribuir isso ao exercício que fiz ou à garoa que repentinamente começou a cair no Monte, quando lá estive, e que me apanhou sem guarda-chuva e sem sobretudo, ou se ao choque que tive ao ler a inesperada notícia do assassinado do General Pinheiro Machado, que só ontem soube, como ficou dito.

Passo o dia triste e temendo alguma hemoptise, apesar de, logo pela manhã, ter começado a tomar uma fórmula de “hidrastis” com “hamamelis”, em partes iguais. A enfermeira do argentino nota a minha tristeza, à noite, e pergunta por minha saúde. Digo-lhe que vou sem alteração. Apesar de tudo janto bem e, como depois de jantar sinto frio, calcei umas luvas . Esta sensação de frio ainda me abate e impressiona mais por que vejo que o termômetro marca 20 graus de temperatura, que não pode determinar o frio que eu sinto. Recolho-me cedo e aparentando absoluta calma, quando tenho a alma num verdadeiro desespero. É possível que eu tenha vindo de minha terra para morrer na Madeira, sem ter um seio amigo onde amparar a cabeça na hora extrema? É sob este pensamento desolador que me meto na cama e durmo.

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