domingo, 14 de junho de 2009

SETEMBRO, 27 (1915)

Levantei-me cedo e pedi o jornal. Não tem nada que se possa ler sem náuseas: uns versos indignos de um padre idiota e pouca coisa mais; tudo, porém, igual aos versos do padre.
Estive inquieto todo o dia à espera de um telegrama do meu correspondente no Porto, mandando uma ordem de pagamento que pedi com urgência. Diabo! Depois de amanhã é quarta-feira e, às quartas-feiras, quando a gente vai tomar a pr imeira refeição, encontra a conta da semana sob o prato. Ora, eu estou em condições “delicadíssimas” (como diria o Antônio Campos) porque o cobre que me resta não basta para as despesas da semana. Que fazer? Depois de muito pensar, achei uma solução perfeitamente aceitável: ali no “Diário da Madeira” anuncia-se sempre uma casa de penhores; pois bem, se o telegrama do Porto não chegar até amanhã, pelas 10 horas, vou com o meu anel de bacharel ao prego e está salva a situação. Pela primeira vez vai ele me ser útil de alguma forma. Penso que não me desdouro procedendo assim, pois cada um, na apertada hora, vale-se do que tem. Demais, eu me sentiria mal se fosse obrigado a pedir moratória no hotel, pois até certo ponto precisaria humilhar-me e um brasileiro não se humilha nessas paragens. E é sob este pensamento que se esvai o dia. Contudo, jantei bem. Depois do jantar chega o telegrama salvador. Ufa! Respiro e vou dormir descansado.

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