domingo, 14 de junho de 2009

SETEMBRO, 19 (1915)

Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
Domingo. Dia calmo e triste. Quase todos os hóspedes sobem; eu, porém, fico no hotel. O silêncio que faz é apenas perturbado de vez em quando pelo buzinar rouquenho dos autos que passam em disparada pela estrada monumental. À tarde aumenta o número de autos. Parece-me anormal este fato e pergunto a um criado o que há. É um santo de aldeia que se festeja para este lado da ilha. Passa gente também a pé. Chego ao portão e noto a falta de linha e a falta de vibratilidade da madeirense. É um tipo inexpressivo e morto comparada à brasileira. Não tem aquele garbo, aquela agilidade e aquela graça que direi de corça nata na filha de minha terra. Advinha-se logo que a mulher daqui é fria e não é capaz daqueles grandes lances afetivos que tem as brasileiras.

Ao jantar falo com a tal família a que me tenho referido e palestramos animadamente. Já me parecem, marido e mulher, gente distinta e de perfeita educação. Noto que estão de luto e sei que o trazem por dois filhos que morreram combatendo os alemães na fronteira da França. Tenho visto aqui já diversos pais ingleses nestas mesmas condições e me admiro de que não se queixem. São tristes mas de uma tristeza resignada e digna, sem aquele excesso e aquelas explosões, em sua maioria fictícia, que sempre observei no meu País. Dir-se-á que todo inglês tem a consciência do sacrifício que está fazendo a Inglaterra, e cada família ferida com a perda de um membro, em vez de se abismar num sentimentalismo que seria fatal num latino, fica tranqüilo abafando com um ódio imenso, tributando aos alemães e o propósito firme de mandar até o último varão contanto que tenham a vitória final e vejam esmagado o orgulho extremo mas também (porque não dizer) a bravura extrema da raça alemã.

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